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Nov 10
Por

Michael Seufert

, às 18:00 | comentar

Não sei em quantos culpados já vamos da nossa situação política e financeira. Foi o passado e os governos PSD-CDS, foi a crise externa, foram os bancos americanos, foram os especuladores, foi a oposição, foram os submarinos... Foi sempre alguém "lá fora" ou pelo menos exterior à esfera do governo. O governo, que até tem a responsabilidade de mandar, nenhuma culpa tem por, ao fim de cinco anos, estarmos na situação em que estamos. Hoje apontaram-se as baterias à Alemanha. É algo que, compreenderão, me irrita. Pela injustiça que isso significa, pelo claríssimo excesso de algumas declarações, mas sobretudo pela péssima imagem que Portugal está a dar. As declarações que estes dias se lêem na imprensa atingem aliás muitas vezes o limite do politicamente aceitável.

 

Sérgio Sousa Pinto acusa a Alemanha de ter a política europeia como quintal da política alemã. Ana Gomes fala em Diktat alemão (fazendo depois a incrível afirmação de que para haver superavit na Alemanha, outros países teriam que ter forçosamente um deficit - inaugurando porventura toda uma nova escola do pensamento económico). Edite Estrela - ela pela vistos muito sabedora da vontade e capacidade política do eleitorado alemão - acha que Merkel não tem "dimensão política nem sabedoria para o cargo que ocupa". Eduardo Cabrita considera que "a senhora Merkel tem uma visão muito pequenina" (mas diz-se por aí que tem uma carteira grande, vá lá!). Mário Soares excede-se para lá do que já lhe estamos habituados, perguntando: "Pensará a Alemanha que é a dona e manda unilateralmente na UE? Foi essa arrogância que nos levou a duas guerras mundiais, no século passado, com as desastrosas consequências que tiveram para a Alemanha, em primeiro lugar".

 

Compreende-se o desespero socialista. Aliás só um grande desespero poderia levar a que tantos responsáveis perdessem a cabeça desta forma. É que com o Orçamento do Estado em vias de ser aprovado, e sem que se veja subsequente tranquilidade da parte dos nossos credores, é preciso arranjar mais um bode expiatório. Claro que o facto de a Alemanha ser o maior contribuinte líquido para o orçamento da UE e para o Fundo de Estabilização Financeira, é um pormenor de somenos importância. Felizmente - perdoem-me o sarcasmo - o governo dá sinais de que percebeu o problema de imagem que estamos a dar aos nossos parceiros europeus. O avanço hoje anunciado pelo ministro das Obras Públicas do TGV, do Novo Aeroporto de Lisboa e da Terceira Travessia sobre o Tejo, sõ demonstra que é o governo que não está à altura da situação portuguesa.

 

Portugal hoje, por via da acção do governo e destas declarações do partido do governo, comporta-se como o vizinho desempregado que constrói uma piscina nova e vem pedir "um quilinho de arroz, que a vida não está fácil". A União Europeia, com a Alemanha na frente, tem ajudado Portugal e continuará a fazê-lo. Se o governo socialista nos deixar numa situação de precisarmos dum bailout, vão ser estes responsáveis do partido socialista a pedir à Alemanha e à UE mais uma ajuda. Apesar dos disparates, a ajuda virá. Em todo o caso, melhor seria trabalhar para a evitar.


Na última fila da bancada do CDS-PP sentaram-se no primeiro dia, por acaso ou providência, os quatro deputados mais novos da bancada. Juntam-se virtualmente neste espaço para continuar as discussões após o fim dos trabalhos. Junte-se, leia e debata as opiniões dos deputados… Da última fila.
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Cecília Meireles Graça
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